"Porque a mais razoável das loucuras é aquela partilhada com o mundo." "Para um mundo razoável esqueçam a loucura das partilhas.."

Monday, March 27, 2006

Só Marley teve filhos..



Hoje tive uma das mais sumarentas experiências da minha curta e humilde actividade jornalística. Foi-me reservada a tarefa e dada a oportunidade de entrevistar o filho mais novo de Bob Marley, Damian, nesta sua estadia de dois dias em Portugal (hoje no Porto e amanhã em Lisboa). Convém anexar que Damian Marley (ou Junior Gong) é fruto da relação de Bob Marley com uma ex-miss EUA, irmão de Ziggy Marley e Steve Marley, cunhado de Laurin Hill e o seu último álbum conta com a colaboração dos amigos Nas e Black Thought (dos THe Roots).
Surpreendeu-me a figura franzina a saltar do elevador, aconhechegada pelos três seguranças bem nutridos, surpreendeu-me o aperto de mão mais frágil que já tive a oportunidade de experimentar, supreendeu-me o tique nervoso de estalar os dedos e surpreendeu-me a recusa inegociável de se dissociar do apelido que lhe registou o notário.
Não me surpreendeu o inglês mal lapidado que também lhe pinta o estilo, não me surpreendeu a pose rasta e a folha de cannabis estampada na t-shirt, não me surpreedeu o discurso pela paz entre povos e o aspecto pouco lavado de quem passou a noite a produzir quantidades industriais de fumo.
Petrifiquei com um pedido: "Não comparem o meu pai ao Sinatra, à Aretha Franklin ou ao Elvis. Comparem-no a Gandhi, Buda ou Moisés".
Agradeci o álbum que me ofereceu (o tal que ganhou recentemente dois Grammy's) e pedi, com jeitinho, que lhe imprimisse um rabisco. Apesar da minha indiferença ao estilo, Welcome To Jamrock - álbum reggae 2005 - é dono de uma das melhores músicas que ouvi ultimamente, a versão que o puto roubou ao rei de Pimpa's Paradise.
A conversa, num dos sofás do Sheraton, é para conferir na íntegra no próximo Domingo n' O Primeiro de Janeiro.

Damien Marley - Pimpa's Paradise (ft. Stephen Marley & Black Thought)
Damien Marley - Move!
Damien Marley - Welcome To Jamrock
Damien Marley - Road To Zion (ft. Nas)

Friday, March 24, 2006

As minhas reticências só têm dois ..

Uiii.. Arrebita-se-me o mais tranquilo pintelho do braço sempre que o vento se apresenta ao serviço nestes dias de almofada. Incomoda-me, o vento.
Também me incomodou um inquérito pobrezinho ao qual dediquei 2 minutos numa mostra da universidade no passado fim-de-semana. O simpático questionário atrevia-se ao compromisso de me criar um perfil sociológico que, supostamente, corresponderia à realidade e, não fintando a minha essência, cedi à tentação dos rótulos. O resultado foi claro. O meu perfil sociológico passava por classificações como europeísta, consumista, progressista e de família média.
Quê?! Esperava eu um resultado clínico que me garantisse a aversão e resistência a estados deprimentes, uma forte e vincada masculinidade, um potencial senhor do poder, já para não falar no carácter inegavelmente sedutor, e vem-me o sexualmente dúbio (expressão EXPRESSO para maricas) do inquérito dizer-me que gosto da Europa, que sou progressista porque gosto de música alternativa e independente, que sou consumista porque frequento cafés, esplanadas e centros-comerciais, e que pertenço a uma família média porque é consitituida por 5 elementos. Dane-se.. E quanto cães mijam nas ruas do Porto? Não me consegue dizer o sapiente inquérito? Fiquei com inveja de um bichinho adolescente que fez o inquérito antes de mim e foi 'acusado' de ser revivalista. Deve ter pinta ser revivalista. Dá um cheirinho clássico à personalidade. "Prazer, chamo-me Ricardo e sou revivalista". Uiii.. E tudo isto é tão importante como a música no FashionTV.

Anime-me. Ando viciadito em espaços como o MySpace e o YouTube. O meu carácter consumista não é suficiente para me fazer comprar todo o material das bandas que gosto por isso resigno-me a ouvir as novidades (no primeiro) e vêr os concertos (no segundo). Acho que é a minha costela progressista a dar de si. Mas o que quero mesmo é ser revivalista.

Saturday, March 18, 2006

The Libertines



Arrastaram o Reino Unido para a onda de revivalismo do rock de garagem que bandas como os The Strokes, nos EUA, The Hives, na Suécia, e The Datsuns, na Nova Zelândia, promoveram.
Respiram pela boca de Pete Doherty e este já mal respira tamanhas são as quantidades de droga que namora. Na capa do segundo álbum imortalizaram as turras e reconciliações de Doherty e Carl Barat. Up The Bracket (2002) e The Libertines (2004) levantaram as pouco sensuais britânicas do sofá das discotecas.
Oh Pete, acaba lá com a birra!

The Libertines - Horror Show
The Libertines - Up The Bracket
The Libertines - Don't Be Shy
The Libertines - Music When The Lights Go Out
The Libertines - Time For Heroes
The Libertines - The Saga
The Libertines - The Boy Looked At Johnny

Monday, March 13, 2006

Yeah a flu..



Secam as estradas, arrebitam-se as flores e já fornicam os gatos. As mangas viram curtas, estreiam-se óculos de sol, manifesta-se o cheiro dos sovacos. Estendem-se as esplanadas, desempacotam-se os gelados e o natural vira fresco. Aperaltam-se os decotes, escurece a pele, agradecem as vistas.
Parece-me, aqui do meu canto traquina, que o calor está a tentar oferecer um manguito ao frio. E eu, obediente às tradições, abraço a constipação marota desta altura do ano.
Enche-me o nariz de uma amarelo-verdura pegajosa, entopem-se-me os ouvidos de um zumbido constante e abastado em decibeis, treme-me a garganta de dôr, humedecem-me os olhos e o que os separa do nariz e, mal menor, atravessam-me os delírios com a constância e atrevimento do costume.
Tudo isto faz de mim um menino melhor.
A constipação em tempos de sol transforma-me em alguém inegavelmente mais sedutor. A rouquidão na voz reflectem a maturidade por que busco e não atinjo. O pingo ao nariz empresta-me um tique másculo que se baseia no repuxar de uma narina (a esquerda, preferencialmente) e um pestanejar de esforço. O ensurdecimento resguarda-me da estridência na voz de professores amargurados e irmãos em puberdade e fomenta o aproximamento útil em conversas a dois. As lágrimas conferem-me a sensibilidade que já tenho mas tento encobrir.
E se a tudo isto juntar a voz da Karen O no recém adquirido (ou coisa parecida aquela que o Soulseek me proporciona) Show Your Bones dos Yeah Yeah Yeahs tenho um dia em cheio.

Ou isso ou 'nunca mais começa O Prédio do Vasco'.

Yeah Yeah Yeahs - Way Out
Yeah Yeah Yeahs - Fancy

Yeah Yeah Yeahs - Dudley
Yeah Yeah Yeahs - Phenomena

Yeah Yeah Yeahs - Gold Lion
Yeah Yeah Yeahs - Turn Into

Dead Combo



Os portugueses Dead Combo editam o segundo álbum da carreira com Quando a Alma Não é Pequena. «Vol.2» é, primeiramente, a ruptura conformada com a editoria independente e o alistar por uma outra de edição nacional (neste caso, a Universal). É o público quem ganha.
Com uma respeitável e em expansão lista de convidados (a saber, Paulo Furtado dos WrayGunn e The Legendary Tiger Man, Sérgio Nascimento do projecto Humanos, Nuno Rafael dos mesmos Humanos, Peixe dos Pluto, Nuno Rebelo e até o cineasta Edgar Pêra, porque Dead Combo combina com cinema). Cada um com uma respeitosa e proveitosa colaboração em diferentes temas.
O primeiro registo dos Dead Combo, «Vol.1», brincou com diferentes e inúmeros adjectivos nas análises acerca do seu rótulo e desempenho enquanto obra de arte. O pós-modernismo sem cara acabou por chegar aos ouvidos e auscultadores da BBC Radio. «Quando a alma não é pequena» confirma todo o vocabulário que se gastou com a novidade Dead Combo. O tradicional a roçar o moderno, o moderno a tentar o experimental e o experimental a sonhar com o divinal.
Tó Trips e Pedro Conçalves lançam para a posteridade mais um namoro atrevido mas sincero ao que de muito bom se faz por cá. Guitarras eléctricas, percussão manual, instrumentos de sopro e lamentos vocais são só pares de flirt com os já habituais guitarra e contrabaixo.
Ainda agora o ano musical começa e o duo lisboeta já se posiciona confortavelmente nos mais que confirmados e conformados autores de bons discos do ano. Para ouvir no carro, à noite, em velocidade cruzeiro.

Matt Costa



Este não se dedica ao surf mas sim ao skate. Aos 24 anos, Matt Costa é desportista urbano na reforma. Matt trocou a rectangular tábua urbana por um curvilíneo instrumento melódico, a guitarra.Tom Dumont (dos No Doubt), que produziu o primeiro EP do rapaz e o disco de que vos falo, descobriu Matt Costa e acabou por entregá-lo à Brushfire Records, o selo editorial dos últimos Verões.
Songs We Sing constitui o primeiro álbum da carreira do norte-americano. A opção por melodias simples establece o elo de ligação com outros artistas da Brushfire Records (a editora de Jack Johnson). O resultado final foge então para sonoridades menos marítima e mais terrestres, menos groove mas mais intrumento.
O folk do californiano acaba por se distanciar da composição quente de Jack Johnson, o padrinho, mas abraça, ainda com a pouca firmeza de um primeiro álbum a simplicidade congratulada de Fountains Of Wayne.
Embora com tendências rebeldes, «Songs We Sing» é mais uma proposta da Brushfire Records para um Verão por que já se espera.

Friday, March 03, 2006

I've Got It



Quando o dia só é dia porque ainda não há estrelas, quando a chuva cai coerentemente e o vento se manifesta resmungão, Yo La Tengo.
Os Yo La Tengo são os Belle & Sebastian em bad mood, são os Death Cab For Cutie sem exageros oportunos e, se forçarem, são os Animal Collective razoavelmente inspirados ou os The Velvet Underground ao fim-de-semana. Contudo, são o som ideal para deixar a tocar nestes dias cinzentos de actividade. Há que deixar a música conhecer cada parede da casa e rendermo-nos aos desígnios do relógio.
Yo La Tengo são Ira Kaplan, a sua mulher Georgia Hubley e James Smith, são de Nashville e andam nisto da música há mais anos do que eu nisto da vida. São produto da Matador Records e só isso já lhes garante qualidade.

Yo La Tengo - Nothing But You And Me
Yo La Tengo - Take Care
Yo La Tengo - Don't Have To Be So Sad

Yo La Tengo - Little Eyes
Yo La Tengo - Season Of The Shark

Yo La Tengo - Moonrock Mambo