33 minutos

Jorge Palma

A intenção era passear-me pela Rua de Sta. Catarina num final de tarde, quando as luzes que celebram a época já iluminam a azáfama daqueles que escolhem o que oferecer neste Natal. A agitação, o amontoamento, a desordem, todo um enredo confuso que só nestes dias nos permitimos a perdoar.
Era tudo isso que queria fotografar, mas perdi-me pela intenção..

Dei por mim na FNAC. Até porque estava frio lá fora e sabia antecipadamente que acabaria por perder alguns minutos a espereitar as novidades que aquele espaço sempre me oferece.
Sem saber muito bem como, já estava com os auscultadores nos ouvidos (alguém falou em frio?) e com um CD do Jorge Palma na mão. Suspeito que tudo isto é consequência da influência de alguém (vou chamar-lhe M.) que tem pelo senhor uma admiração maior do que, até então, era a minha.
33 minutos.. Foi precisamente o tempo que perdi (ou ganhei) a escutar o Norte, nome do último álbum do Jorge Palma, num posto de escuta desconfortável da FNAC.
Durante todo esse tempo não me lembro bem do que aconteceu, estava a prestar demasiada atenção ás letras e já nem me lembrava que estava ali com o objectivo de fotografar alguma coisa. Recordo-me que por breves minutos uma senhora esteve por perto, certamente com a intenção de ouvir um pedacinho do CD, mas das duas uma, ou por falta de paciência ou por se ter apercebido que estava realmente deliciado com o que estava a ouvir, lá foi aquecer os ouvidos para outro posto de escuta.
Demovido pelas pernas cansadas e pela fome (sempre a inconveniente fome), lá pousei o aparelhómetro com cuidado, afinal estava ali algo de muito valor.
Fui jantar ainda atordoado pelo que tinha acabado de ouvir e a euforia que me arranhava os pensamentos aconselhou-me a mandar uma mensagem á M., não me podia esquecer que foi ela que me incutiu o bichinho Palma.

Enquanto jantava, lamentava-me pela distância que me separava do meu computador e por ter de esperar 19 horas para poder partilhar o momento que descrevi com o meu blog.
Terminado o jantar, pronto para acender o cigarro, apercebi-me do travo amargo que era estar viciado em num cantor ao qual nunca tinha dedicado a atenção que ele merecia. Voltei ao local do crime e, guloso, devorei Silence 4 ao vivo no Coliseu, Philly Soul Vol. 2, California Soul, Humanos e Pearl Jam, tudo álbuns que tinha a certeza me iriam fazer partilhar o encanto que naquele momento estava em exclusividade no Norte. Mas não foi bem assim..

Voltei para casa aos soluços e arrastos (já vos aconteceu?).
Hoje, bem cedo, mais cedo do que o meu corpo habitualmente aceita, a M. ofereceu-me o bem dito CD. Logo que cheguei a casa obriguei-o a rodar no som cá do sítio. E assim está ele há umas boas horas, e assim continuará..
Se bem me lembro, aquando da oferta, retribuí o gesto com um beijo repinicado. Agora, ainda mais consciente do valor da prendinha, lamento ter sido só um.. Era encher a carita da menina de beijinhos e no final, estilo golpe final, um abraço bem forte e sentido.
Obrigado M.


P.S. - Este foi só o Post mais longo que alguma vez escrevi..