"Porque a mais razoável das loucuras é aquela partilhada com o mundo." "Para um mundo razoável esqueçam a loucura das partilhas.."

Monday, January 23, 2006

Até onde me levem as pálpebras..

Antecipei-me um minuto à hora que tinha planeado e acordei sem a estridência enérgica do despertador. A janela abriu-se ao som da minha voz e apercebi-me, por entre pestanas, que o sol tinha aceite o convite. Desleixei-me na cama por mais uns minutos, podiam ter sido horas mas hoje, por excelência, as amarras que me seguram ao leito estavam menos confiantes.
Ergui o tronco, cumprimentei com os dedos a ponta dos pés num exercício físico matinal que nunca tinha sido capaz de executar. Não perdi tempo com espantos. Apercebi-me que estava a reproduzir sons desleixados que se assemelhavam à música Beautiful dos Belle & Sebastian. Dirigi-me surpreendentemente pouco tropeço para o quarto-de-banho que, não sabia bem porquê, estava mais perto do meu quarto do que na manhã anterior. Enquanto me despia, com a tímida naturalidade de quem se vê ao espelho e enumera retoques a proceder numa próxima encarnação, alguém tratou de definir a banda sonora que me acompanharia no banho matinal. Por entre o ruído do jacto do chuveiro a estalar-me pelo corpo consegui ouvir Colors do Amos Lee, Come Pick Me Up do Ryan Adams e Frankenstein da Aimee Mann. Entre as duas qualidades de champô que espalhei pela cabeça, veio-me a ela, à cabeça, que a música estava a ser agradavelmente cinematográfica e que tinha de memorizar esta expressão para uso futuro num blogue da minha propriedade.
De banho tomado e roupa leve vestida, cruzei-me com o pequeno-almoço tranquilo na mesa da cozinha. Leite morno, pão com queijo e belgas de chocolate aconselhavam-me com o aspecto a ceder à gula biologicamente imaculada da manhã. A acompanhar deram-me a ouvir Spoiled da Joss Stone e Pale September da Fiona Apple.
Entrei no carro sem ter de me desconcentrar com trivialidades como abrir e fechar a garagem, o combustível não me indicava se tinha ou não de me preocupar com a sobrevivência dos três euros que tinha no bolso, limitou-se antes a acalmar-me com uma luz verde indicadora de que estaria tudo sob rigoroso controlo nos próximos tempos. Dirigi-me para qualquer lado, porque sem destino é sempre bem melhor, ao som de Queens Of The Stone Age. Era a primeira vez que os amplificadores se manifestavam e acenei-lhes com o apreço de quem saúda a sua aparição.
No banco de trás do carro estavam amontoados alguns livros íntimos. A Música do Acaso de Paul Auster, escritor com lugar reservado no pódio das minhas preferências, as viagens tresloucadas de Bill Byron em Nem Aqui, Nem Ali e o recente empréstimo do pai, Aqueles Tempos com Gabo de Plinio Apuleyo Mendoza.
Encostei o carro na fila da frente para o Atlântico, numa praia de actividade singelamente piscatória deste norte litoral. Inclinei o banco para trás, sintonizei uma rádio amável que me deu a ouvir Build Up dos Kings Of Convenience.
Dexei as pálpebras caírem, paralisei movimentos e, enternecido, empurrei a imaginação.
Acordei sob o sol confortável da Toscana, admirei o verde dos lagos e o verde mais verde da vida que o envolvia. Bebi sumo de limão e trinquei salgados acompanhado no prazer pela oração dos Portishead e pelas preces negras da Erykah Badu.
Deixei caír novamente as pálpebras para logo as levantar em Covent Garden, Londres. Cumprimentei cada animador de rua, ouvi os cânticos desafogados de adeptos do Chelsea na varanda do City Plaza, bebi cerveja vergonhosamente saboreada e apressei o relógio só para vêr a noite caír neste cantinho britânico. Em honra à lua que agora se erguia tocavam os dEUS de Tom Barman. Pelo meio recordei cenas de A Love Song For Bobby Long, Elizabethtown e Vanilla Sky e rendi-me às suas bandas sonoras.
Voltaram a cair-me as pálpebras e acordei em Nova Orleães. Percorri a passo retardado umas quantas ruas escuras, deixei-me confundir pela paella de música que ouvia dos bares, convidativos em demasia e sem excepção para me forçar a optar por apenas um deles. Sentei-me num passeio e, depois de escrever compulsivamente até que se me acabasse a tinta da caneta, voltei a ceder ao peso das pálpebras.
Acordei com o despertador a invocar o sinal horário da Antena 1.

3 Comments:

Blogger the girl in the other room said...

;))mto forinha esse sonho! tb posso entrar?;p

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12:19 AM

 
Anonymous Anonymous said...

bem..e' 1abuso postar sem t cnhcer d lad nhum,mas n cnsgui reistir:ta' lind!!!
destM +1a razao p cntinuar a paxar por est blog;)

1:42 PM

 
Anonymous Anonymous said...

adorei seu blog!
beijos...

12:46 AM

 

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