"Porque a mais razoável das loucuras é aquela partilhada com o mundo." "Para um mundo razoável esqueçam a loucura das partilhas.."

Monday, May 09, 2005

Ilícito, Delicado mas Trivial

Extintos exílios de opção e antiquadas terapias da gargalhada, chegou a altura de opinar seriamente acerca do mais sério dos temas.
Com a maturidade que vinte anos sobriamente vividos me conferem, sinto-me por fim iluminado a falar de Política, e sem os receios ou opressões com os quais esta ciência se relaciona amigavelmente.
Sou jovem, demasiado jovem para reflectir sabiamente sobre as estreitas ligações que unem política, políticos, demagogias e população - por esta ordem.
Sou jovem, demasiado jovem para ajuízar com valor qualquer tipo de campanha, rotular intervenientes e condenar (a falta de) medidas.
Sou jovem, demasiado jovem para acenar com convicção a bandeira de um qualquer partido a menos de remuneração suficiente para uma noite de paródia.
Sou jovem, como eu uma boa parte da população deste país, e a verdade é que apenas uma ínfima e, aos olhos de muitos, infame minoria se dedica às causas partidárias.
Animam-me as disputas pelo protagonismo de direita e promotorismo de esquerda, quando nos provam os resultados que os votos caem ao centro. Animam-me as cruzadas contra o radicalismo de esquerda, quando ninguém sabe em que se baseia o radicalismo de esquerda. Animam-me as revoltas contra o fascismo da direita, quando já ninguém se lembra do fascismo da direita.
Não faltam convites, não falta merchandising, não faltam recompensas, não falta publicidade. Falta o essencial, a crença. A crença inequívoca numa causa personificada por quem não escolhemos, a crença num projecto que ainda não é nosso, a crença na palavra de quem publicamente nos representa.
É escassa a vontade de entrar na guerra. Ainda não aliciam os cenários de propaganda política, não convidam as lutas fraticidas dentro das próprias instituições, incomodam as corridas desenfreadas pelo assento parlamentar e estranha-se a igualdade entre sexos muito teorizada e pouco praticada.
E enquanto sobrevive este desengonço moral, o único motivo esdrúxulo que recruta novas vozes para este meio continua a ser, maioritaria e lamentavelmente, o reconhecimento.
Até ordem em contrário, todas as vezes que o trânsito engarrafar e se me apoderar da mente que ainda me restam quarenta e cinco anos para atingir a idade de reforma, desesperarei por não saber de que forma posso melhorar o meu país, a minha cidade ou, pelo menos, o meu bairro. Porque a política é para os políticos, porque a política não é para insensatos jovens de vinte anos - e eu não abdico dos meus -, não sigo o caminho pecaminoso de me infiltrar no mundo dos que dão a cara. Até ver.

1 Comments:

Blogger ADM said...

É um texto profundo, mas um quanto lírico meu caro. è que quando falas neste texto de política, erras. Erras, porque da forma como a classificas, não falas de política, mas sim da politiquice que é praticada pelos caciques que pululam nos partidos. Política verdadeira, é a discussão das melhores opções para a sociedade, claro que tempo sempre por pano de fundo opções ideológicas, que não têm a ver com a pseudo-classificação da esquerda e da direita, mas sim, com o maior ou o menor respeito pelas liberdades individuais.

9:38 AM

 

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